Alli por perto de Odivelas me disse o meu amigo Luiz da Silva:
ÑEntremos por esta azinhaga que no tem sahida. Isto vae dar quella casinha branca. Mra l um velho a quem te vou apresentar. Mas quem sabe se o homem morreu?! Ha tres annos que o no vi...
ÑTem esse sujeitoÑperguntei eu com a minha natural magnanimidade de immortalisadorÑpassagens na vida dignas de chronica?
ÑTem, e magnificas.
ÑCapazes de um volume de 250 paginas em 8.¼?
ÑIsso no sei. A biographia d'este homem uma infelicidade vulgar, que, todavia, fez grande estrondo; mas os naufragios do corao parecem-se aos do mar: abre-se um abysmo, que sorve centenares de vidas, e d'ahi a pouco nenhum vestigio sobrenada flor das ondas; assim succedeu na procella que sossobrou o velho que vaes vr.
ÑFez grande estrondo, disseste ahi tu! Mas eu, attento aos escandalos estrondosos do meu paiz, no me lembro d'isso...
ÑNo eras ainda nascido.
ÑAh! eu no era ainda nascido? Isso ento caso muito antigo...
ÑUm pouco depois da edade-mediaÑreplicou Luiz da Silva.
E d'esta frma gracejando por conta da nossa velhice, entestamos com uma porta estreita e baixa pertencente ao quintal da casinha branca.
O meu amigo bateu duas aldravadas na porta.
ÑEst aberta; levante o ferrolho quem Ñdisse uma voz de dentro.
Ñ vivo o homem!Ñdisse Luiz, entrando.
Caminhamos por debaixo de uma parreira, cujos pilares se vestiam de festes de rozeiras vulgares e descuradas, alastrando-se por terra, e formando alcatifa de rosas murchas. Ao cabo da fresca e assombrada avenida, encontramos um caramanchel enverdecido de trepadeiras,Êe l dentro um ancio sentado em escabello de cortia, afagando um gato maltez que lhe dormitava sobre os joelhos, e com pachorrento desdem entre-abriu os olhos nossa chegada.