Livres para obedecer: A gestão, do nazismo aos nossos dias

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Boa parte da literatura dedicada ao tema convencionou tratar o nazismo como uma exceção histórica, um momento de trevas quase descolado de seu tempo. Nessa linha, são muitas as abordagens estritamente morais e psicologizantes que caracterizam o nazismo como um fenômeno pré-moderno, resultante de um certo "mal absoluto" desconectado da contemporaneidade e da dinâmica capitalista. Embora a barbárie tenha alcançado intensidade e escala inéditas sob o III Reich, isso, por si só, não configura o nazismo como exceção, um ponto fora da curva e, logo, como evento irrepetível. Em Livres para obedecer: a gestão, do nazismo aos nossos dias, o historiador francês Johann Chapoutot revela a conexão entre o nazismo e a teoria da gestão empresarial, caracterizando-o como um movimento perfeitamente integrado à modernidade. Chapoutot lembra que as origens do chamado management não estão no período nazista, mas tiveram nele continuidade e desenvolvimento. Mais do que isso, as ideias praticadas nos doze anos em que os nazistas governaram a Alemanha encontraram solo fértil no pós-guerra, particularmente na escola de negócios da República Federal da Alemanha, a Bad Harzburg Academy, responsável por formar mais de 600 mil executivos. Para exemplificar esses laços, Chapoutot recorre à figura de Reinhard Höhn (1904-2000). Jurista e influente intelectual do partido nazista que terminou a guerra como general, Höhn, após alguns anos de ostracismo entre 1945 e o início dos anos 1950, voltou à vida civil como um dos fundadores e principal teórico de Bad Harzburg. Os seminários e manuais de Höhn fizeram bastante sucesso até a década de 1970. Sua tese se baseava no cumprimento de objetivos por delegação de responsabilidades, com metas hierarquicamente definidas, porém permitindo ao agente cumpri-las da forma que considerasse mais adequada. Nesse modelo que encoraja a iniciativa pessoal, a liberdade é entendida como motor do desempenho individual – o autodesenvolvimento constante, a criatividade e o próprio bem-estar são atribuições do indivíduo; do mesmo modo, cabe somente a ele o peso do eventual fracasso. Livres para obedecer aponta as assombrosas semelhanças entre as técnicas de administração nazistas e os métodos gerenciais modernos. Ainda que as teses de Bad Harzburg tenham sido alvo de críticas a partir dos anos 1970 e modelos de países como Estados Unidos e Japão tenham assumido a dianteira na prática da "gestão de pessoas", as questões que Chapoutot levanta são muito atuais, sobretudo neste tempo em que o fascismo ressurge com força. Explorar a vida e o universo de pessoas assim conduz a terras estranhas, distantes, impregnadas de angústia e brutalidade, a épocas superadas que chegaram a um fim absoluto, ao que se pensa, em 1945. Mas esses textos suscitam reflexos de contemporaneidade, momentos em que, à leitura de uma palavra, de uma frase, o passado parece presente.

About the author

Johann Chapoutot é professor de história contemporânea na Universidade de Sorbonne e especialista em Alemanha nazista. Seus onze livros foram traduzidos para treze idiomas e laureados na França e no exterior, incluindo os prêmios da Academia Francesa, Cherasco Storia, da Itália, e Yad Vashem International Book Prize for Holocaust Research. Depois de estudar a noção de tempo entre os nazistas (Le National-socialisme et l'Antiquité, 2008, PUF), Chapoutot explorou a cultura normativa nazista (La Loi du sang. Penser et agir en nazi, 2014, Gallimard; A revolução cultural nazista, 2022, Da Vinci), antes de questionar o papel do nazismo na sociedade ocidental contemporânea (Livres para obedecer: a gestão, do nazismo aos nossos dias, 2023, Da Vinci). Publicou também obras que oferecem uma reflexão geral sobre a história contemporânea (Le Grand Récit, 2021, PUF) e sobre a história da escrita (Les 100 mots de l'Histoire, 2021, PUF), além de um pequeno texto, escrito com Dominique Bourg, denunciando a impotência das autoridades públicas apesar dos perigos do aquecimento global ("Chaque geste compte". Manifeste contre l'impuissance publique, 2017, Gallimard). Nomeado professor da Universidade de Sorbonne aos 35 anos, Chapoutot é um dos docentes mais jovens a ser recrutado nesta instituição de quase mil anos.

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