O processo de composição do Livro marrom indica o caráter dialógico do pensamento e do estilo maduro do filósofo. Ao longo de seis meses, entre 1934 e 1935, ele e dois de seus alunos de Cambridge, Alice Ambrose e Francis Skinner, dedicaram-se a sessões diárias, que chegavam a durar oito horas, nas quais Wittgenstein ditava suas observações. A seguir, os alunos apresentavam dúvidas, comentários e questionamentos, que ocasionavam revisões e reescritas. Passava-se, então, ao próximo tópico. Esses elos mais ou menos autossuficientes são, assim, diálogos internos, mas que se complementam numa corrente que exibe unidade entre conteúdo e forma, característica marcante de todo o pensamento wittgensteiniano.
A presente edição representa um marco internacional. Ela oferece ao público leitor brasileiro aquela que se pode justamente considerar a primeira versão completa do texto de Wittgenstein, em qualquer língua, incluindo o inglês, em que foi originalmente escrito. Isso porque, ao lado do texto tornado canônico na edição inglesa de 1960, ela traz, na forma de apêndice, toda uma importante seção sobre a "Comunicação da experiência pessoal", recentemente descoberta em arquivos e que corresponde ao fecho que Wittgenstein desejava dar para suas reflexões
Ludwig Wittgenstein (1889-1951) conta entre os mais influentes filósofos do século 20, não apenas por suas ideias, mas por ser o criador de métodos e estilos de escrita únicos. Acompanhar sua trajetória desde a juventude do Tractatus até a maturidade das Investigações e do Sobre a certeza oferece um caminho elucidativo e transformador, que passa necessariamente pelos famosos ditados de Cambridge: O livro azul e O livro marrom.