Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) é unanimemente reconhecido como o maior expoente da Literatura Brasileira e o principal nome do Realismo no país. Nascido no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, em condições humildes – filho de um pintor de paredes mulato e uma lavadeira portuguesa –, sua trajetória é um dos mais fascinantes exemplos de superação intelectual. Autodidata e enfrentando a epilepsia e a gagueira, Machado ascendeu socialmente por meio da inteligência e da obstinação. Sua carreira começou no jornalismo e na poesia, atuando como tipógrafo, revisor e colaborador em periódicos. A primeira fase de sua produção, conhecida como Fase Romântica (Ressurreição, 1872), ainda seguia as convenções da época, mas já prenunciava a agudeza que o consagraria. A grande virada ocorre em 1881 com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, marco inaugural do Realismo no Brasil. Nesta fase madura, Machado abandona o sentimentalismo romântico para mergulhar na análise psicológica implacável da sociedade e do indivíduo. Suas obras, escritas com ironia refinada e um pessimismo filosófico, questionam a hipocrisia das elites, a vaidade humana e a fragilidade das relações. Os grandes romances dessa fase, como Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908), são estudos profundos sobre a natureza humana, explorando temas como a ambiguidade, o ciúme, a loucura e o ceticismo. Ele é mestre em utilizar narradores não confiáveis, forçando o leitor a participar ativamente na construção do sentido da obra – o caso mais notório sendo o enigma da traição de Capitu em Dom Casmurro. Machado de Assis foi também um dos fundadores e o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), instituição que presidiu até a morte e que lhe rendeu o apelido carinhoso de "Bruxo do Cosme Velho", em referência ao bairro onde viveu a maior parte de sua vida adulta. Sua obra não apenas moldou a literatura brasileira, mas transcendeu fronteiras, sendo hoje estudada em todo o mundo como um exemplo magistral de universalidade literária. Ele é a voz que, com serenidade e acidez, desnudou a alma do Brasil de seu tempo e, por extensão, a alma humana em todas as épocas.