Aos vinte annos, viu-se obrigado, por uma revolta militar do corpo a que pertencia, a refugiar-se no estrangeiro, por onde pairou algum tempo, visitando a Inglaterra e a Frana. No sei se foi decisiva para a sua vocao essa viagem; o estado em que ento se encontrava a Europa pode fazel-o crer. Uma outra era abria-se aos espiritos inquietos e convulsionarios. As naes, que durante quarenta annos se tinham agitado em guerras terriveis, nas epicas campanhas de Bonaparte, nas guerrilhas da Italia, na politica da Austria, sentiam a necessidade de pacificar-se. Comeou pois a revoluo na arte.
O inquieto Chateaubriand e o desesperante Byron tinham feito as suas obras no meio das agitaes d'essa Europa, de que elles invocaram o passado, poetisando-o com as saudosas melancolias que desperta em todas as mentes doloridas. Na Allemanha Goethe e os irmos Schlegels, Leopardi na Italia, cunhavam os seus escriptos com esse desespero de descontentes, de sempre tristes. O sol das batalhas apagara-se em Santa Helena ao mesmo tempo que o sol da poesia expirava ao avistar a Grecia, que ia libertar. Bonaparte e Byron foram os deuses d'essa gerao; e, para completar a trindade, poder-se-hia juntar-lhe Leopardi. Mas o poeta do Amor e da Morte, o atheu sem esperana, o heroico resignado, no teve a influencia dos dois primeiros, nem a quiz. O vencedor de Marengo e o poeta de Manfredo, convulsivos e desesperados, tiveram o enthusiasmo e a aco; o triste que escreveu essa admiravel elegia ao Passaro Solitario, em nada acreditava, seno na inutilidade da vida e no repouso da morte. No era portanto um guia que escolhessem os que viam a existencia mais complicadamente.